Por A. Shakti
Haverá tolos e inocentes que, em sua falta de noção habitual, dirão em voz alta:
— Mas que desnecessário um manifesto da mulher livre. Todas as mulheres são livres!
Pois bem. Esses deveriam rever urgentemente sua percepção de mundo.
Se acreditam nisso, é porque ignoram a realidade ou, pior, são cúmplices dela. Haverá também os que, com seu machismo travestido de proteção, afirmarão:
— Mulher precisa de um homem para cuidar dela.

A esses, recomendo um espelho e um terapeuta. Quem precisa desesperadamente ser cuidado, protegido e validado são exatamente esses homens: inseguros, frágeis e emocionalmente atrofiados.
O que chamam de “cuidar” é, na verdade, um método disfarçado de controle, um cabresto dourado para que a mulher troque sua autonomia por uma coleira de devoção. Sempre haverá alguma que, sem perceber seu próprio poder, aceitará isso — por escolha ou por condicionamento.
Outros, os mais previsíveis, nada dirão. O silêncio do conveniente, do covarde, do que tem medo de perder privilégios ou de ser confrontado. E haverá, claro, aqueles que se identificarão, abraçarão, propagarão e lutarão. Entre os que entendem e os que sabotam, eis a linha que separa quem é pela mulher e quem é contra ela.
Não existe meio-termo. Apoiar as mulheres é garantir que tenham direitos, escolhas e sua cidadania plena, sem concessões ou tutelas.
Agora, prestem atenção: Mulheres são a maioria nas grandes cidades, nas periferias, nas favelas, nos escritórios, nas filas de emprego, nas universidades e nos lares que sustentam sozinhas. E também são a maioria nas estatísticas de feminicídio. São a maioria entre as que apanham, as que são violentadas, as que são assediadas no trabalho, no transporte público, na rua, na igreja, na família e até em um simples trajeto da casa ao mercado.

E dentro dessa maioria brutalizada, há uma outra: as mulheres negras.
São elas que morrem mais, que sofrem mais violência obstétrica, que são mais julgadas, invisibilizadas e descartadas. São elas que o Estado mata, que o mercado explora, que a mídia silencia e que a sociedade desumaniza.
E se acham que isso não é um projeto muito bem estruturado, sugiro que pesquisem quem detém o poder e quem mais lucra com essa realidade.

Mas não para por aí.
Além das que morrem, há as que não podem nem existir sem que sua identidade seja atacada. Mulheres trans são assassinadas diariamente por mentes limitadas e corpos inseguros. Por homens tão perdidos em sua própria masculinidade que se sentem ameaçados por tudo que foge ao que sua cabecinha ultrapassada considera aceitável.

São esses mesmos que reduzem mulheres cis à reprodução e à obediência, que negam seus direitos reprodutivos, que enxergam o corpo feminino como mercadoria pública e que, diante da rejeição, escolhem a violência como resposta.
O perfil do agressor não muda. Ele é o homem que se sente diminuído diante da autonomia feminina. O que confunde masculinidade com posse. O que não suporta que a mulher viva, escolha, ame, decida e, acima de tudo, não precise dele para absolutamente nada.

E diante disso, resta a pergunta: Onde está a maior de todas as instituições?
Não, não estou falando de ONGs, coletivos feministas ou órgãos governamentais. Falo da Instituição Mulher. Se um dia resolvermos fechar as portas e dizer basta, este mundo desaba. Porque mulheres não são só úteros, não são só donas de casa, não são só o que esperam delas. São o motor dessa sociedade.

E chegou a hora de acabar com o discurso de que ou somos submissas ou somos hostis. Basta.
Basta da mulher que fiscaliza e pune outras mulheres para agradar os homens. Basta da que se ilude achando que pode conquistar respeito defendendo o patriarcado com mais empenho do que os próprios homens. Basta de quem finge não ver a realidade enquanto outras morrem. E, principalmente, basta de mulheres se omitindo umas com as outras. Porque a verdade é essa: se nós não nos apoiarmos, ninguém o fará.

Não sustentem masculinidades frágeis que só sabem oferecer migalhas enquanto arrancam o pão da sua boca quando precisam garantir sua própria sobrevivência. Não sustentem narrativas que jogam mulher contra mulher para que os verdadeiros opressores saiam ilesos.
Sejamos solidárias entre nós. Sejamos o suporte, a escuta, a resistência umas das outras. Sejamos as donas da nossa história. Pense Mulher. Lute pela Mulher. Lute como uma mulher. E para aqueles que ainda se incomodam com isso: aguardem sentados, porque nós não vamos parar.
